segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Fim


Enquanto passeavas, e ias enterrando os pés na areia, passavam em slides as memórias até ali vividas. Todas as lágrimas derramadas eram o mar que vias, e os sorrisos o ar que respiravas.

Levavas na mão, uma mala castanha, uma coisa prática para transportar facilmente. Tinhas lá dentro o telemóvel, o teu telemóvel. Ouviste um som, e pegaste nele. Acabavas de receber uma mensagem, e reparaste que já tinhas a caixa de entrada quase cheia. Todas as mensagens vinham do mesmo número. Continuaste a andar, desta vez dirigiste-te para a água para molhar os pés descalços. Conseguias ver o verniz nas unhas e o teu reflexo na água. Era hora do pôr-do-sol, o teu cabelo pouco curto, bem liso, esvoaçava ao ritmo do vento que por ele passava, e nas tuas sardas batia o pouco sol que havia. Era um dia esquisito.

Havias sido magoada. Tinhas dito ao rapaz que te ama, que não o amavas mesmo que isso fosse mentira. As gaivotas rodeavam-te, quase a avisar-te de algo, ficaste confusa por aquilo, mas não ligaste. Uns passos à frente na areia, havia uma folha rasurada e amarrotada com algumas palavras que ainda se percebiam e dizia: ‘ Hoje pus termo a vida. Ninguém se deve culpar, porque a decisão foi minha, e se alguém tem culpa é o meu coração. Ele é que não devia amar, não devia sofrer, não devia sentir, e para isso então, não pode viver. Every day and every night, love you for all my life.’, caíste de joelhos, com as lágrimas a escorrerem-te pelo rosto quente do sol.

Reconheceste a frase inglesa, era a vossa frase. Ficaste uma série de minutos agarrada à folha, sentias que ela te abraçava também, levantaste-te e procuraste a mala, que havias deixado cair minutos atrás. Pegaste então no telemóvel, e a sequência de minutos a minuto, tinha acabado, não recebeste mais mensagens. Leste-as em voz alta, como se falasses para alguém, as lágrimas corriam sem parar. Dizia que te amava, que te queria, que não conseguia viver sem ti. Dizia também que te ficaria para sempre a olhar por ti, estivesses onde estivesses, a fazer o que quer que seja, via-te, amava-te e protegia-te.

Assim, pedia desculpa pela loucura, mas dizia ser a mais acertada. A mais racional, a mais definitiva. Sentias o sentimento de culpa a sobrecarregar-te a alma, o peito, o corpo. Sentias o arrependimento, o ódio por ti. Sentias que o mundo não era justo, nem racional. Sentias tudo duma só vez. Sentias o fim.


Cíntia

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